segunda-feira, 2 de junho de 2008

a. Por meio de contraste

Exemplo 1
Zaqueu e os Dois Discípulos em Emaús

Quando lemos Lucas 19 e Lucas 24, notamos que os fatos sobre o Senhor vindo à casa de Zaqueu e Sua vinda à casa dos dois discípulos em Emaús são totalmente diferentes. À casa de Zaqueu o Senhor mesmo queria ir, mas em Emaús Ele fez menção de ir adiante. Qualquer que seja sensível logo vê que o Senhor Jesus havia feito duas coisas inteiramente diferentes. Em um caso o Senhor estava ajudando um pecador, desprezado por todos - pois Zaqueu não era apenas um coletor de impostos ordinário, ele era um coletor-chefe. Sem esperar por ser convidado, o Senhor Jesus voluntariamente expressou o desejo de ir à sua casa. O próprio Zaqueu realmente queria ver o Senhor, mas ele não ousou se dirigir a Ele, estando envergonhado da sua infâmia assim como percebendo sua estatura pequena. Em tais circunstâncias, foi o Senhor quem se ofereceu a vir, dizendo: “Zaqueu, apressa-te, e desce; pois hoje eu devo habitar em tua casa.” Com respeito ao pecador que realmente O havia procurado, porém não ousou vir a Ele, Jesus convidou a si mesmo à casa de Zaqueu. O Senhor conhecia o coração do coletor de impostos. Quão delicado, portanto, era o sentimento do Senhor. E se nosso sentimento interior for delicado, nós também entenderemos.
Os dois homens em Emaús, por contraste, eram discípulos que haviam dado as costas. Havendo sido turvados seus olhos espirituais, eles falharam em reconhecer o Senhor quando O encontraram. O Senhor caminhou com eles e falou a eles, explicando as Escrituras. Quando os dois homens se aproximaram da vila onde eles estavam indo, o Senhor Jesus pareceu seguir caminho. Sua atitude para com esses dois discípulos foi um tanto diferente da Sua atitude para com Zaqueu. Para com o primeiro o Senhor foi humilde a ponto de voluntariamente se oferecer para ficar em sua casa porque Ele sabia o quão grande era a dificuldade exterior de Zaqueu e o quão impronunciável era o sofrimento interior de Zaqueu. Mas esses dois homens de emaús uma vez conheceram o Senhor. Mas eles haviam dado as costas agora. E mesmo depois de ouvir muitas coisas do Senhor, eles ainda se dirigiram para Emaús. Assim, o Senhor pareceu ir adiante até que eles O constrangeram a ficar. Em um caso, um homem tornou seu rosto para o Senhor, enquanto em outro dois homens tornaram as costas para o Senhor. É por isso que a atitude do Senhor para com eles é diferente em cada caso. Se pudermos tocar os sentimentos delicados do Senhor Jesus, poderemos então ser capazes de alcançar Jesus de Nazaré que Deus deseja nos revelar.

Exemplo 2
A Duas Pescarias de Pedro

Em Lucas 5 é registrado que Pedro pescou a noite inteira e não obteve nada. Mas quando o Senhor Jesus disse a ele, “Vai ao mar alto, e lançai as redes para pescar,” os pescadores obedeceram e capturaram uma grande multidão de peixes. Anteriormente eles não haviam pego nada; agora, estranhamente, eles pescaram uma grande multidão de peixes. Isso moveu Pedro a se prostrar diante dos joelhos de Jesus, dizendo, “Afasta-te de mim; pois eu sou um homem pecador, Oh Senhor.” Novamente, no registro de João 21, Pedro foi pescar. O Senhor perguntou-lhes, “Filhos, tendes alguma coisa de comer?” A que eles responderam “Não.” Então Ele novamente disse-lhes, “Lançai a rede do lado direito do barco.” Eles o fizeram e puxaram muitos peixes. Na primeira pescaria o Senhor revelou Sua glória a Pedro, uma glória tão transcendente que, sob tal iluminação, Pedro viu o quão pecador e indigno da presença do Senhor ele era. Mas na segunda pescaria, que aconteceu depois da ressurreição do Senhor, no momento em que Pedro soube que era o Senhor, ele pulou no mar e nadou até a praia. Parece que, uma vez tendo reconhecido o Senhor, Pedro não queria mais os peixes. A mesma revelação produziu dois diferentes resultados. No primeiro momento, fez com que aquele que nunca havia conhecido a si mesmo se conhecesse, pedindo assim que o Senhor se apartasse dele; por outro lado, no segundo momento, fez com que alguém que já havia conhecido o Senhor viesse ainda mais perto dEle. E, assim, devemos ter diferentes impressões desses diferentes fatos.

Exemplo 3
O Senhor Multiplicando os Pães e Maria Ungindo o Senhor

Dois incidentes são registrados nos quatro Evangelhos: um é o Senhor multiplicando pães para alimentar cinco mil, e o outro é Maria ungindo o Senhor com nardo. Depois de o Senhor ter multiplicado os pães e alimentado os cinco mil, Ele ordenou que Seus discípulos reunissem os pedaços quebrados que restaram, para que nada fosse desperdiçado (João 6.12). Isso é um tanto incomum, pois o Senhor estava desejoso de multiplicar os pães e ainda ordenou que os pedaços quebrados restantes fossem recuperados para que nada fosse desperdiçado. Mais tarde, quando os discípulos reclamaram da mulher que havia quebrado seu vaso e derramado puro nardo no Senhor (dizendo, “Por que propósito se fez esse desperdício de ungüento?”), Ele respondeu, “Ela fez-me boa obra” (Mc. 14.3-9).
Aqui encontramos um contraste entre a multiplicação dos pães e a unção com nardo. Em um evento, nada deveria ser desperdiçado. No outro, aquilo que parecia ter sido desperdiçado não foi de maneira alguma considerado desperdício. Aquilo que era o resultado de um milagre não devia ser desperdiçado, mas aquilo que havia sido comprado com trezentos dinheiros não foi desperdiçado quando derramado sobre o Senhor. Aquele nardo puro comprado com trezentos dinheiros não foi dado aos cinco mil para que usassem, foi dado para consumo do Senhor. Aquele nardo não devia ser recolhido, pelo contrário o vaso que o continha devia ser quebrado. Não era doze cestos, era um vaso de alabastro. Isso são contrastes. O Filho de Deus reuniu os pedaços de pão multiplicados miraculosamente, mas Ele aceitou a consagração do nardo que valia trezentos dinheiros sem reconhecer isso como extravagância. Todos os quatro Evangelhos registram esse incidente. E onde quer que seja pregado o evangelho pelo mundo, disse o Senhor, aquilo que a mulher fez também será falado em memória dela. assim como é amplamente espalhado o evangelho, assim é a mensagem de consagração. Onde quer que o evangelho é proclamado, a dedicação ao Senhor o segue. Agora, devemos ter uma impressão como essa dentro de nós.

Exemplo 4
O Julgamento do Senhor e Paulo Sob Julgamento

Muitas vezes é bastante instrutivo comparar os quatro Evangelhos e os Atos. Por exemplo, note que tanto o Senhor Jesus como Paulo estiveram sob julgamento. Quando Paulo estava sendo julgado, ele declarou ser um Fariseu, e um filho de Fariseus (Atos 23.6). Isso é um tanto diferente do que o Senhor Jesus afirmou quando Ele estava sob juízo. Embora tenhamos nosso irmão Paulo como precioso, o melhor que a terra pode produzir é um filho de homem, enquanto que Jesus de Nazaré é o único Filho gerado por Deus. Comparando eles, notamos imediatamente que um é o Filho Unigênito de Deus enquanto o outro é apenas uma criança nascida de Deus; um é o Senhor, enquanto o outro é o servo; um é o mestre enquanto o outro é um discípulo. Apesar do fato de que Paulo havia alcançado um alto nível espiritual, ele nunca pode ser superiormente comparado ao seu Senhor. Quão delicado precisa ser nosso sentido interior, se quisermos conhecer as apóstolos nos Atos e conhecer o Senhor nos Evangelhos. Se somos menos sensíveis, seremos incapazes de receber plenamente a impressão que o Senhor deseja que tenhamos, sendo impedidos de prostrar-se diante do Senhor, adorando-O. Uma pessoa descuidada vai ler a Bíblia como se lesse uma história comum; o Espírito Santo não é capaz de dar-lhe a imagem apropriada.

Exemplo 5
O Senhor Passando Pelo Meio [Da Multidão] e Paulo Sendo Abandonado

Uma vez, o Senhor Jesus estava na sinagoga em Nazaré. Depois de o Senhor ter lido as Escrituras e falado um pouco, Ele foi levado pela multidão enfurecida à beira de um penhasco para que Ele fosse lançado abaixo. Mas Ele, passando por entre eles, seguiu Seu caminho (ver Lc. 4.29-30). Quão digna foi esta cena! Mas, quão diferente isso foi da experiência de Paulo ao ser descido em um cesto pela muralha (ver At. 9.25). Isso não sugere de maneira nenhuma que Paulo não estava certo; simplesmente implica em que ele era de qualidade inferior a Cristo. O Senhor apenas passou por entre as pessoas. Que impressão isso nos dá! Quando o Senhor passou por entre aqueles que desejaram feri-lO, essas pessoas puderam apenas olhar para Ele espantadas. Quão honorável e glorioso é nosso Senhor!

2. Sentimentos Delicados

Muitos desejam ver a fineza da palavra de Deus, mas devido à sua falta de sentimentos delicados ele falham em captar esses pontos intrincados. Vamos testar isso nos quatro Evangelhos e nos Atos, que narram as coisas concernentes ao Senhor Jesus. Esses cinco livros dão mais fatos sobre o Senhor Jesus do que as Epístolas. Nós devemos receber preciosas impressões desses fatos. Vamos ilustrar com os seguintes exemplos.

1. Impressão do Fato

O segundo item que o Espírito Santo nos demanda quando lemos a Bíblia é que tenhamos impressão do fato. A Bíblia não é totalmente doutrina, uma vez que muitas de suas partes lidam com fatos, histórias e estórias. O Espírito Santo, através desses fatos e histórias e estórias, espera produzir uma impressão em nós, sendo para Ele bem fácil nos falar a palavra de Deus dessa forma. Se a palavra de Deus falha em criar uma impressão, ela se esvairá de nós sem deixar nenhum efeito esperado.

A impressão mencionada aqui não se refere a uma familiaridade com qualquer história que seja, mas com uma imagem definida que emerge da característica da história. Cada evento registrado na Bíblia tem sua característica. Se falharmos em reconhecer esse aspecto em especial, não seremos capazes de entender a palavra de Deus. Pode se assemelhar a um contrato que é efetivo não com qualquer selo, mas somente com o selo certo. Assim, a impressão aqui discutida enfoca mais a característica do que os conteúdos de qualquer evento. Descobrindo essa característica, poderemos ouvir o que Deus especialmente deseja dizer naquela ocasião em particular. É possível lembrar uma coisa, e até mesmo relacioná-la, e ainda assim perder sua distinção, falhando assim em entender a palavra de Deus. No Novo Testamento são encontradas as Epístolas e o Apocalipse assim como os Evangelhos e os Atos. Enquanto lemos as Epístolas, precisamos entrar no pensamento do Espírito Santo; quando lemos os quatro Evangelhos e os Atos, precisamos ter um coração que o Espírito Santo possa impressionar com fatos, levando-nos a perceber a diferença entre esse e outros fatos, conhecendo assim a distinção de cada fato.

Ser impressionado com uma impressão é como tirar uma fotografia. Há muitas décadas atrás, uma polegada de filme fotográfico era coberta por dezenas de milhares de minúsculas partículas de brometo de prata, de forma que a fotografia reproduzida não era muito atraente devido a esses pontos escuros. Mais tarde, um grande melhoramento fez com que não houvesse mais pontos escuros na foto. Já que uma polegada de filme é coberta por muitos milhões de partículas de brometo de prata, a impressão tornou-se clara e distinta. De forma semelhante, quanto mais delicados e sensíveis somos interiormente, mais clara as impressões que recebemos; mas quanto menos refinados somos interiormente, menos impressões obtemos. Se o coração e o espírito de uma pessoa estão abertos a Deus, sua sensibilidade se desenvolverá a tal nível que, qualquer que seja o fato que o Espírito Santo passe perto dele, a impressão que ele recebe será afiada e profunda. Uma pessoa espiritualmente delicada e sensível verá pelo menos duas coisas: primeiro, ela naturalmente notará a ênfase que Deus deseja revelar em Sua palavra; e segundo, ela poderá detectar a diferença entre o que Deus quer falar em um fato particular daquilo que Ele quer falar no resto.

Todos os espiritualmente obtusos falham em apreciar a fineza da palavra de Deus. Para que a palavra de Deus deixe neles uma impressão indelével, eles devem se guardar em humildade e em extrema sensibilidade. Assim, eles alcançarão os pontos finos assim como o esboço da palavra.