segunda-feira, 2 de junho de 2008

a. Por meio de contraste

Exemplo 1
Zaqueu e os Dois Discípulos em Emaús

Quando lemos Lucas 19 e Lucas 24, notamos que os fatos sobre o Senhor vindo à casa de Zaqueu e Sua vinda à casa dos dois discípulos em Emaús são totalmente diferentes. À casa de Zaqueu o Senhor mesmo queria ir, mas em Emaús Ele fez menção de ir adiante. Qualquer que seja sensível logo vê que o Senhor Jesus havia feito duas coisas inteiramente diferentes. Em um caso o Senhor estava ajudando um pecador, desprezado por todos - pois Zaqueu não era apenas um coletor de impostos ordinário, ele era um coletor-chefe. Sem esperar por ser convidado, o Senhor Jesus voluntariamente expressou o desejo de ir à sua casa. O próprio Zaqueu realmente queria ver o Senhor, mas ele não ousou se dirigir a Ele, estando envergonhado da sua infâmia assim como percebendo sua estatura pequena. Em tais circunstâncias, foi o Senhor quem se ofereceu a vir, dizendo: “Zaqueu, apressa-te, e desce; pois hoje eu devo habitar em tua casa.” Com respeito ao pecador que realmente O havia procurado, porém não ousou vir a Ele, Jesus convidou a si mesmo à casa de Zaqueu. O Senhor conhecia o coração do coletor de impostos. Quão delicado, portanto, era o sentimento do Senhor. E se nosso sentimento interior for delicado, nós também entenderemos.
Os dois homens em Emaús, por contraste, eram discípulos que haviam dado as costas. Havendo sido turvados seus olhos espirituais, eles falharam em reconhecer o Senhor quando O encontraram. O Senhor caminhou com eles e falou a eles, explicando as Escrituras. Quando os dois homens se aproximaram da vila onde eles estavam indo, o Senhor Jesus pareceu seguir caminho. Sua atitude para com esses dois discípulos foi um tanto diferente da Sua atitude para com Zaqueu. Para com o primeiro o Senhor foi humilde a ponto de voluntariamente se oferecer para ficar em sua casa porque Ele sabia o quão grande era a dificuldade exterior de Zaqueu e o quão impronunciável era o sofrimento interior de Zaqueu. Mas esses dois homens de emaús uma vez conheceram o Senhor. Mas eles haviam dado as costas agora. E mesmo depois de ouvir muitas coisas do Senhor, eles ainda se dirigiram para Emaús. Assim, o Senhor pareceu ir adiante até que eles O constrangeram a ficar. Em um caso, um homem tornou seu rosto para o Senhor, enquanto em outro dois homens tornaram as costas para o Senhor. É por isso que a atitude do Senhor para com eles é diferente em cada caso. Se pudermos tocar os sentimentos delicados do Senhor Jesus, poderemos então ser capazes de alcançar Jesus de Nazaré que Deus deseja nos revelar.

Exemplo 2
A Duas Pescarias de Pedro

Em Lucas 5 é registrado que Pedro pescou a noite inteira e não obteve nada. Mas quando o Senhor Jesus disse a ele, “Vai ao mar alto, e lançai as redes para pescar,” os pescadores obedeceram e capturaram uma grande multidão de peixes. Anteriormente eles não haviam pego nada; agora, estranhamente, eles pescaram uma grande multidão de peixes. Isso moveu Pedro a se prostrar diante dos joelhos de Jesus, dizendo, “Afasta-te de mim; pois eu sou um homem pecador, Oh Senhor.” Novamente, no registro de João 21, Pedro foi pescar. O Senhor perguntou-lhes, “Filhos, tendes alguma coisa de comer?” A que eles responderam “Não.” Então Ele novamente disse-lhes, “Lançai a rede do lado direito do barco.” Eles o fizeram e puxaram muitos peixes. Na primeira pescaria o Senhor revelou Sua glória a Pedro, uma glória tão transcendente que, sob tal iluminação, Pedro viu o quão pecador e indigno da presença do Senhor ele era. Mas na segunda pescaria, que aconteceu depois da ressurreição do Senhor, no momento em que Pedro soube que era o Senhor, ele pulou no mar e nadou até a praia. Parece que, uma vez tendo reconhecido o Senhor, Pedro não queria mais os peixes. A mesma revelação produziu dois diferentes resultados. No primeiro momento, fez com que aquele que nunca havia conhecido a si mesmo se conhecesse, pedindo assim que o Senhor se apartasse dele; por outro lado, no segundo momento, fez com que alguém que já havia conhecido o Senhor viesse ainda mais perto dEle. E, assim, devemos ter diferentes impressões desses diferentes fatos.

Exemplo 3
O Senhor Multiplicando os Pães e Maria Ungindo o Senhor

Dois incidentes são registrados nos quatro Evangelhos: um é o Senhor multiplicando pães para alimentar cinco mil, e o outro é Maria ungindo o Senhor com nardo. Depois de o Senhor ter multiplicado os pães e alimentado os cinco mil, Ele ordenou que Seus discípulos reunissem os pedaços quebrados que restaram, para que nada fosse desperdiçado (João 6.12). Isso é um tanto incomum, pois o Senhor estava desejoso de multiplicar os pães e ainda ordenou que os pedaços quebrados restantes fossem recuperados para que nada fosse desperdiçado. Mais tarde, quando os discípulos reclamaram da mulher que havia quebrado seu vaso e derramado puro nardo no Senhor (dizendo, “Por que propósito se fez esse desperdício de ungüento?”), Ele respondeu, “Ela fez-me boa obra” (Mc. 14.3-9).
Aqui encontramos um contraste entre a multiplicação dos pães e a unção com nardo. Em um evento, nada deveria ser desperdiçado. No outro, aquilo que parecia ter sido desperdiçado não foi de maneira alguma considerado desperdício. Aquilo que era o resultado de um milagre não devia ser desperdiçado, mas aquilo que havia sido comprado com trezentos dinheiros não foi desperdiçado quando derramado sobre o Senhor. Aquele nardo puro comprado com trezentos dinheiros não foi dado aos cinco mil para que usassem, foi dado para consumo do Senhor. Aquele nardo não devia ser recolhido, pelo contrário o vaso que o continha devia ser quebrado. Não era doze cestos, era um vaso de alabastro. Isso são contrastes. O Filho de Deus reuniu os pedaços de pão multiplicados miraculosamente, mas Ele aceitou a consagração do nardo que valia trezentos dinheiros sem reconhecer isso como extravagância. Todos os quatro Evangelhos registram esse incidente. E onde quer que seja pregado o evangelho pelo mundo, disse o Senhor, aquilo que a mulher fez também será falado em memória dela. assim como é amplamente espalhado o evangelho, assim é a mensagem de consagração. Onde quer que o evangelho é proclamado, a dedicação ao Senhor o segue. Agora, devemos ter uma impressão como essa dentro de nós.

Exemplo 4
O Julgamento do Senhor e Paulo Sob Julgamento

Muitas vezes é bastante instrutivo comparar os quatro Evangelhos e os Atos. Por exemplo, note que tanto o Senhor Jesus como Paulo estiveram sob julgamento. Quando Paulo estava sendo julgado, ele declarou ser um Fariseu, e um filho de Fariseus (Atos 23.6). Isso é um tanto diferente do que o Senhor Jesus afirmou quando Ele estava sob juízo. Embora tenhamos nosso irmão Paulo como precioso, o melhor que a terra pode produzir é um filho de homem, enquanto que Jesus de Nazaré é o único Filho gerado por Deus. Comparando eles, notamos imediatamente que um é o Filho Unigênito de Deus enquanto o outro é apenas uma criança nascida de Deus; um é o Senhor, enquanto o outro é o servo; um é o mestre enquanto o outro é um discípulo. Apesar do fato de que Paulo havia alcançado um alto nível espiritual, ele nunca pode ser superiormente comparado ao seu Senhor. Quão delicado precisa ser nosso sentido interior, se quisermos conhecer as apóstolos nos Atos e conhecer o Senhor nos Evangelhos. Se somos menos sensíveis, seremos incapazes de receber plenamente a impressão que o Senhor deseja que tenhamos, sendo impedidos de prostrar-se diante do Senhor, adorando-O. Uma pessoa descuidada vai ler a Bíblia como se lesse uma história comum; o Espírito Santo não é capaz de dar-lhe a imagem apropriada.

Exemplo 5
O Senhor Passando Pelo Meio [Da Multidão] e Paulo Sendo Abandonado

Uma vez, o Senhor Jesus estava na sinagoga em Nazaré. Depois de o Senhor ter lido as Escrituras e falado um pouco, Ele foi levado pela multidão enfurecida à beira de um penhasco para que Ele fosse lançado abaixo. Mas Ele, passando por entre eles, seguiu Seu caminho (ver Lc. 4.29-30). Quão digna foi esta cena! Mas, quão diferente isso foi da experiência de Paulo ao ser descido em um cesto pela muralha (ver At. 9.25). Isso não sugere de maneira nenhuma que Paulo não estava certo; simplesmente implica em que ele era de qualidade inferior a Cristo. O Senhor apenas passou por entre as pessoas. Que impressão isso nos dá! Quando o Senhor passou por entre aqueles que desejaram feri-lO, essas pessoas puderam apenas olhar para Ele espantadas. Quão honorável e glorioso é nosso Senhor!

2. Sentimentos Delicados

Muitos desejam ver a fineza da palavra de Deus, mas devido à sua falta de sentimentos delicados ele falham em captar esses pontos intrincados. Vamos testar isso nos quatro Evangelhos e nos Atos, que narram as coisas concernentes ao Senhor Jesus. Esses cinco livros dão mais fatos sobre o Senhor Jesus do que as Epístolas. Nós devemos receber preciosas impressões desses fatos. Vamos ilustrar com os seguintes exemplos.

1. Impressão do Fato

O segundo item que o Espírito Santo nos demanda quando lemos a Bíblia é que tenhamos impressão do fato. A Bíblia não é totalmente doutrina, uma vez que muitas de suas partes lidam com fatos, histórias e estórias. O Espírito Santo, através desses fatos e histórias e estórias, espera produzir uma impressão em nós, sendo para Ele bem fácil nos falar a palavra de Deus dessa forma. Se a palavra de Deus falha em criar uma impressão, ela se esvairá de nós sem deixar nenhum efeito esperado.

A impressão mencionada aqui não se refere a uma familiaridade com qualquer história que seja, mas com uma imagem definida que emerge da característica da história. Cada evento registrado na Bíblia tem sua característica. Se falharmos em reconhecer esse aspecto em especial, não seremos capazes de entender a palavra de Deus. Pode se assemelhar a um contrato que é efetivo não com qualquer selo, mas somente com o selo certo. Assim, a impressão aqui discutida enfoca mais a característica do que os conteúdos de qualquer evento. Descobrindo essa característica, poderemos ouvir o que Deus especialmente deseja dizer naquela ocasião em particular. É possível lembrar uma coisa, e até mesmo relacioná-la, e ainda assim perder sua distinção, falhando assim em entender a palavra de Deus. No Novo Testamento são encontradas as Epístolas e o Apocalipse assim como os Evangelhos e os Atos. Enquanto lemos as Epístolas, precisamos entrar no pensamento do Espírito Santo; quando lemos os quatro Evangelhos e os Atos, precisamos ter um coração que o Espírito Santo possa impressionar com fatos, levando-nos a perceber a diferença entre esse e outros fatos, conhecendo assim a distinção de cada fato.

Ser impressionado com uma impressão é como tirar uma fotografia. Há muitas décadas atrás, uma polegada de filme fotográfico era coberta por dezenas de milhares de minúsculas partículas de brometo de prata, de forma que a fotografia reproduzida não era muito atraente devido a esses pontos escuros. Mais tarde, um grande melhoramento fez com que não houvesse mais pontos escuros na foto. Já que uma polegada de filme é coberta por muitos milhões de partículas de brometo de prata, a impressão tornou-se clara e distinta. De forma semelhante, quanto mais delicados e sensíveis somos interiormente, mais clara as impressões que recebemos; mas quanto menos refinados somos interiormente, menos impressões obtemos. Se o coração e o espírito de uma pessoa estão abertos a Deus, sua sensibilidade se desenvolverá a tal nível que, qualquer que seja o fato que o Espírito Santo passe perto dele, a impressão que ele recebe será afiada e profunda. Uma pessoa espiritualmente delicada e sensível verá pelo menos duas coisas: primeiro, ela naturalmente notará a ênfase que Deus deseja revelar em Sua palavra; e segundo, ela poderá detectar a diferença entre o que Deus quer falar em um fato particular daquilo que Ele quer falar no resto.

Todos os espiritualmente obtusos falham em apreciar a fineza da palavra de Deus. Para que a palavra de Deus deixe neles uma impressão indelével, eles devem se guardar em humildade e em extrema sensibilidade. Assim, eles alcançarão os pontos finos assim como o esboço da palavra.

sábado, 31 de maio de 2008

3. Dois métodos de treinamento

A fim de treinar nosso pensamento, devemos adotar ambos os métodos a seguir.
Primeiro método- Separe o texto e a explicação. Ao pesquisar o Novo Testamento, podemos tentar pôr todas as explicações do Espírito Santo dentro de colchetes. Tudo o que está entre colchetes são ramos, enquanto que o que está fora são as hastes principais. Através do material “sem-colchetes”, podemos rapidamente descobrir o pensamento principal.

Vamos tentar este método em Romanos. “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser um apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (1.1). Isso é distintivamente a palavra introdutória ao livro de Romanos. “O qual ele prometeu através de seus profetas nas santas Escrituras, a respeito de seu Filho, que nasceu da semente de Davi de segundo a carne, que foi declarado filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos; Cristo Jesus, nosso Senhor” (1.2-4). Isso é para explicar o evangelho; e, assim, isso é a ramificação. Podemos pôr esses três versos em colchetes. “Por quem recebemos graça e apostolado, pela obediência da fé entre todas as nações, pelo seu nome” (1.5). Esse é o texto. Se estudamos todo o livro de Romanos dessa forma, poderemos ver o pensamento principal nesta carta.

No começo, não procure a explicação. Separe o texto primeiro e então estude a explicação. Descubra o pensamento principal do Espírito Santo e adicione a ele a explicação posteriormente O que é o evangelho? “Que ele [Deus] prometeu através de seus profetas nas santas Escrituras.” Deus primeiro profetiza do evangelho antes de enviar o Senhor Jesus para realizá-lo. Na realização do evangelho, há duas partes: a da carne e a do espírito: uma é a vida do Filho de Maria na terra e a outra é vida do Filho de Deus no céu. Os quatro Evangelhos estão na parte carnal, enquanto que as Epístolas falam da parte espiritual. Então, quando lemos, podemos conectar o verso 5 com o verso 1, deixando os versos 2-4 para um estudo posterior. Sempre leia o pensamento principal primeiro e então leia a explicação; e dessa forma entraremos no pensamento original do apóstolo. Toda a Bíblia, especialmente as Epístolas, deveria ser lida dessa maneira. Cada servo de Deus deve saber qual é o pensamento principal ou o tema de cada livro e qual é sua explicação. Esse é o primeiro passo a tomar.

Qual é a vantagem de tomar esse primeiro passo? Ele ajuda-nos a ver em uma certa passagem quantas são as verdades principais e quantas são suas explicações. Quando nos levantamos para ser ministros da palavra de Deus, devemos dar pensamentos principais junto com explicações. Embora, como ministros de Deus, nunca seremos iguais aos primeiros apóstolos em sua perfeição e profundidade, o mesmo princípio nos governa. Assim que separamos o texto na Escritura de sua explicação, imediatamente observamos um maravilhoso fato: que a quantidade e grau de explicação dada na Bíblia são exatamente certos. Nos curvaremos e louvaremos ao Senhor, dizendo, Quão perfeita é Tua palavra! Ao dar uma mensagem, quão facilmente nossas palavras tornam-se fracas e elementares se usamos muitas explicações e ilustrações. Notemos a forma como a explicação é dada na Bíblia. Palavras de explicação não deveriam ser usadas profusamente; explique apenas quando as pessoas não entendem. A explicação é para fazer a pessoas entenderem, por isso não deve ser usada demais. Quão balanceada é a foram como as Sagradas Escrituras são escritas!

Segundo método- Devemos tentar reescrever o texto com nossas próprias palavras; parafraseá-lo com palavras que nós mesmo consideramos facilmente inteligíveis. Por exemplo, Romanos 1.1, 5 e 6 são o texto. Essas palavras foram escritas por Paulo. Agora, depois de ter compreendido o pensamento de Paulo, devemos tentar pôr em nossas próprias palavras. Comece escrevendo apenas o texto, não a explicação entre parênteses. Isso é semelhante a escrever em nossas próprias palavras qualquer história que nos é contada pelo nosso professor depois de haver compreendido. Ao parafrasear as Escrituras, devemos ser o mais possivelmente objetivos, ou seja, reescrevendo passagens de acordo com seu sentido original, sem adicionar nosso próprio pensamento. Precisamos treinar a nós mesmos para seguir o pensamento do Espírito Santo, unindo nosso pensamento com o Seu.

Sem dúvida, podemos cometer erros ao parafrasear as Escrituras. Depois de muitas vezes de correção, no entanto, podemos um dia ser mais precisos nesse trabalho. Se uma pessoa pode aprender dessa maneira, ela pode mais facilmente entender a palavra de Deus. O que é essencial é pôr-se completamente de lado. Nós falharemos se formos orgulhosos ou subjetivos. Devemos aprender a ser objetivos, humildes e submissos. O pensamento do humilde e submisso naturalmente seguirá o pensamento do Espírito Santo. Cada um que estuda as Escrituras deve aprender essa lição.

2. Encontrar a haste e os ramos

A palavra na Bíblia tem seu tema assim como sua explicação. Algumas palavras são de significação primária, outras são de um tipo subordinado. Algumas são como hastes (ou eixos), outras são como ramificações. Nós não devemos perseguir as ramificações e abandonar as hastes, nem notar as hastes e negligenciar os ramos. Precisamos observar cuidadosamente o que o Espírito Santo está mirando em um livro particular; como Ele o diz, quantas coisas Ele menciona, e com quantas palavras Ele finalmente alcança o objetivo. Sigamos o pensamento do Espírito Santo e pensemos sobre essas coisas passo a passo. Tenha me mente que o Espírito Santo tem Seu pensamento principal assim com Sua explicação. Assim como alguém, por exemplo, faz uma explicação em poucas palavras depois de ter começado a escrever um tópico. Isso poderia ser chamado de ramo (ou ramificação). Um ramo, porém, nunca cresce até ao céu sem retornar à terra. Assim, depois de o Espírito Santo ter explicado com cinco ou dez versos, Ele voltará à haste. Não estejamos tão ocupados com a explicação a ponto de falhar em retornar ao assunto principal a que o Espírito Santo está conduzindo. Nas Epístolas, freqüentemente encontramos uma passagem de pensamento principal interpolada por uma seção de explicação. A fim de entender o que estamos lendo, devemos claramente distinguir quais palavras são hastes e quais palavras são ramos. Não devemos simplesmente correr através delas. Quando o Espírito Santo se desvia para explicar, devemos também se desviar. Quando Ele retorna ao tema, devemos ser muito responsáveis, não confiando em nós mesmos, nem confiando na carne.

A palavra na Bíblia tem suas hastes e seus ramos, e essas duas estão mutuamente unidas para formar um todo completo. Por exemplo, ao escrever a carta aos Romanos, o Espírito Santo não nos deu alguns versos isolados como 3.23 ou 6.23 ou 8.1. O livro inteiro apresenta um pensamento inteiro, uma entidade completa, sem faltar em nada. Por essa razão, não devemos pregar sobre alguns versículos tirados de seu contexto. Devemos emprestá-los por razões específicas, mas precisamos fazer distinção entre pegar emprestado das Escrituras e explicá-las detalhadamente. Mesmo emprestando, devemos ainda conhecer o contexto, sob risco de usá-las erradamente como pretexto.

Uma vez tendo nosso pensamento disciplinado, seremos agora capazes de aprender como fixar a luz com nosso pensamento. A luz brilha, mas por apenas um instante; deve, por isso, ser fixada pelo pensamento. Se nosso pensamento é indisciplinado, não sabendo como entrar no pensamento do Espírito Santo, seremos incapazes de fixar a luz com o pensamento quando a revelação vier. Consequentemente, nosso pensamento deve ser disciplinado para ser totalmente objetivo e seguir totalmente o Espírito Santo.

O Espírito Santo tem Sua maneira de falar. Por exemplo, Romanos Capítulo 1 e 2 falam do pecado do homem; o Capítulo 3, de redenção; o Capítulo 4, de fé; o Capítulo 5, do pecador; o Capítulo 6, do pecador que morreu; o Capítulo 7, das duas leis; o Capítulo 8, do Espírito Santo; os Capítulos 9-11, de ilustrações; o Capítulo 12, de Cristo e a igreja; e os Capítulos 13-16, dos vários aspectos da conduta de uma pessoa salva.
Quando lemos esse livro, devemos saber o que o Espírito Santo queria dizer naquela ocasião. Notemos que, em cada seção da sua carta, o Espírito Santo tem Seu pensamento principal. Ele primeiro fala do pecado do homem, depois na sua solução e a realização da justiça de Deus. Isso é seguido pela questão da fé e a dificuldade com a fé, que é a obra do homem. Além do problema do pecado do homem, há também o problema do próprio homem. Então, no capítulo 6, o Espírito Santo habita no pecador (ou velho homem) crucificado. O problema do pecado do homem é resolvido pela fé no Senhor como nosso substituto; o problema do pecador é resolvido pelo crer na co-morte como o Senhor. Nos capítulos 9-11, o Espírito usa Israel para ilustrar a graça de Deus e a fé. Então, no capítulo 12, Ele descreve a situação de um Cristão consagrado; e assim por diante. Do Capítulo 1, através do Capítulo 16, os sentimentos interiores de Paulo são bem notáveis. E essas são as hastes principais.
Mas, quanto aos ramos, desde a primeira seção há alguns. Quando o Espírito Santo está explicando o pecado do homem, Ele distingue os judeus e os gentios antes de retornar ao Seu pensamento principal. No estudo da Bíblia, portanto, devemos seguir o pensamento do Espírito Santo.

1. Unir-se com o pensamento do Espírito Santo

Um estudante da Bíblia deve ser uma pessoa objetiva; ele não deve confiar no seu próprio pensamento. O Espírito Santo tem um pensamento; o pensamento do homem precisa entrar no Seu pensamento e se fundir com ele. Quando o Espírito Santo pensa, eu penso. Pode ser semelhante a um rio, do qual o Espírito Santo é a corrente principal e eu sou um afluente. O Espírito Santo é como uma grande corrente, e eu como uma pequena corrente. A água da pequena corrente e a água da corrente grande se unem e fluem juntas. Se a corrente flui para leste, a pequena corrente também flui para leste. Apesar da pequenez da corrente menor, ela alcançará o vasto oceano se fluir com a grande corrente.

A ênfase na Bíblia varia: às vezes enfoca o fato, às vezes o espírito, mas às vezes enfoca o pensamento. Seja qual for a ênfase, todos os três elementos estão sempre presentes. No momento em que o pensamento prevalece, estarão presentes também o espírito e o fato, e assim por diante. Agora, quando encontramos o pensamento do Espírito Santo, nós devemos ser objetivos assim como capazes de seguir Seu pensamento. Eles podem forçar a si mesmos para pensar de acordo com o Espírito Santo por dez minutos, mas então seu próprio pensamento automaticamente toma conta. Tais pessoas subjetivas são incapazes de estudar a Bíblia. O tratamento da pessoa é, portanto, uma das condições básicas para o estudo da palavra de Deus.

Ao ler as Escrituras, a pessoa deve usar a mente; mas seu pensamento e o pensamento do Espírito Santo devem seguir a mesma linha e a mesma direção. Onde quer que o Espírito Santo vá, lá eu vou. Descubra qual é a tendência do Seu pensamento neste livro, capítulo, passagem ou sentença. Siga-O com singeleza de mente. Descubra o que o Espírito Santo diz, o que Ele pensa, qual é Seu pensamento principal e também Seu pensamento secundário. Ao ler uma passagem da Bíblia, a primeira questão a ser feita é: Qual era a intenção original do Espírito Santo ao escrever essa passagem? Se somos ignorantes quanto à intenção do Espírito Santo, nós podemos no futuro citar erradamente a Escritura. Não é o suficiente apenas ler a letra da Bíblia, memorizando-a e conhecendo alguns significados fragmentados sobre ela. Estudar a Bíblia é estudar os pensamentos do Espírito Santo através de Paulo, Pedro, João e outros quando falam ou lêem. E o entendimento vem apenas quando o pensamento do homem e o do Espírito Santo se unem em um só.

Há uma história de um crente que propositalmente viajou do Egito para a Palestina seguindo as quarenta e quatro estações que os filhos de Israel uma vez viajaram. Ele desviava onde quer que eles houvessem desviado. Seguindo esse curso fielmente, ele finalmente chegou à Palestina. Mais tarde, ele escreveu um livro contando sobre como ele viajou. Seu curso não foi decidido por ele mesmo, ele estava apenas seguindo as pegadas de Moisés. Isso é exatamente como deveríamos estudar a Bíblia: não deveríamos decidir nosso próprio curso; em vez disso, devemos seguir o Espírito Santo. Quando Paulo vai a Jerusalém, nós também vamos a Jerusalém. Onde quer que estejam seu sentimento e pensamento, devemos também sentir e pensar da mesma forma. Não devemos ter um caminho independente; devemos seguir o caminho estabelecido pelo escritores da Bíblia, seguindo o caminho do Espírito Santo. Os leitores de hoje devem pensar o que os escritores do passado pensaram. Os leitores da Bíblia devem ser movidos pelo Espírito Santo a pensar na mesma freqüência que os escritores da Bíblia foram movidos a pensar. Se o nosso pensamento for capaz de seguir o pensamento original do Espírito Santo, entenderemos o que a Bíblia diz.

Três Entradas

Para estudar a Bíblia bem, devemos também penetrar em três coisas do Espírito Santo. Especialmente no estudo do Novo Testamento, essas três coisas são bem manifestas.

Primeiro. O Santo Espírito deseja que entremos no Seu pensamento. Para entender a palavra do Espírito Santo, nosso pensamento deve fundir-se com o pensamento do Espírito Santo. Isso é particularmente importante no entendimento do Novo Testamento.

Segundo. O Santo Espírito insere muitos fatos básicos na Bíblia para que entremos neles. Se falhamos em penetrar estes fatos, não temos outra maneira de conhecer a palavra de Deus. Particularmente nos quatro Evangelhos e nos Atos, o Santo Espírito deseja que entremos nesses fatos prevalecentes.

E terceiro. O Santo Espírito quer que entremos no espírito do que foi escrito. Em muitos lugares, nós precisamos não apenas penetrar o pensamento, mas também no espírito daquele pensamento; não apenas o fato, mas também o espírito daquele fato. Isso é evidente nos Evangelhos, nos Atos e nas Epístolas.

As três coisas acima devem ser penetradas por cada leitor da Bíblia. Quem, então, senão os instruídos e os disciplinados pode entrar nelas? Agora, como essas três questões são ainda concernentes ao problema do homem – de ser apropriadamente treinado – nós a discutimos aqui em vez de as listarmos na próxima seção que trata dos métodos do estudo da Bíblia.

Vejamos, então, como podemos penetrar essas três coisas do Espírito Santo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

C. Exercitado (Parte C - Não deve ser curioso)

Devemos procurar por precisão, porém não devemos ser curiosos. A palavra de Deus é exata, mas não devemos buscá-la com um coração curioso. Se o fazemos, perderemos seu valor espiritual. A Bíblia é um livro espiritual, portanto precisa ser entendida com o espírito. Se a intenção da nossa busca pela sua precisão for a satisfação da agitação da curiosidade em vez da busca pela espiritualidade, teremos entrado pela caminho errado. Quão infeliz é, que muitos procuram sempre por coisas estranhas na Bíblia. Por exemplo, pessoas gastam muito tempo tentando provar que a árvore do conhecimento do bem e do mal é a videira. Tal estudo da Palavra é fútil. Reconhecendo que se trata de um livro espiritual, devemos tocar vida, espírito, e o Senhor nele. Vendo as coisas espirituais podemos também ver a exatidão da sua letra, porque todas as coisas espirituais são precisas. Seremos desviados em nossa busca se não nos aproximarmos deles do ponto de vista da busca pelas coisas espirituais.

Algumas pessoas viajam pela trilha da curiosidade desordenada, especialmente no estudo da profecia. Eles estudam a profecia não para esperar a volta do Senhor, mas com o propósito de conhecer o futuro. A diferença entre o que é espiritual e o que é não-espiritual é tremenda. Se somos apenas curiosos, tomaremos todas as questões espirituais e preciosas e as transformaremos em coisas não-espirituais e mortas. Isso é de fato muito sério. Devemos discernir diante de Deus o que é valioso e o que não é valioso, o que é essencial e o que é incidental. O mesmo Senhor Jesus que proclama que “até que passem o céu e a terra, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Também declara que “vós ... tendes negligenciado os preceitos de maior peso da Lei” (Mat. 5.18, 23.23). A lei á exata ao ponte de nem um jota nem um til passará, mas também contém aqueles que devem ser considerados como os preceitos mais de maior peso. Os curiosos desenfreados escolhem as questões mais leves para estudar. Viajando pela estrada mais leve, eles cedo se tornarão frívolos. A sua condição se encaixa perfeitamente naquilo que o Senhor Jesus se referia quando disse: “Vós ... coais um mosquito e engolis um camelo” (Mat. 23.24). Eles coam o menos mas engolem o mais essencial. Tal maneira de estudar a Bíblia é totalmente errada; e é originada da nossa natureza curiosa. Como podemos esperar estudar bem as Escrituras se nossa natureza permanece sem transformação?

Essas questões mencionadas acima, de subjetividade, descuido e curiosidade são as doenças comuns do homem. Precisamos ter esses defeitos corrigidos diante de Deus para que possamos nos tornar objetivos, precisos, e não-curiosos. Tais hábitos não são formados em um ou dois dias; eles se tornam habituais apenas depois de uma persistente autodisciplina (ou melhor dito, disciplina do Espírito). Onde quer que tomemos as Escrituras para ler, façamos isso objetivamente, acuradamente, e sem curiosidade. E quando nossa natureza e hábito forem corrigidos apropriadamente, estaremos então aptos para estudar bem a Bíblia.

C. Exercitado (Parte B - Não deve ser descuidado)

A Bíblia não deve ser lida descuidadamente uma vez que é um livro muito acurado, exato até ao último jota e til. A palavra de Deus se esvairá através da mínima negligência. Assim como uma pessoa subjetiva perderá a palavra de Deus, assim também uma pessoa descuidada perde também sua lição. Sejamos cuidadosos. Quanto mais uma pessoa conhece a palavra de Deus, mais cuidadosa ela se torna. Para uma pessoa sem pensamento, a leitura da Bíblia se torna casual. Ouvindo a maneira como um irmão lê a Bíblia, você pode prontamente julgar se ele é uma pessoa cuidadosa ou descuidada. É, de fato, um hábito muito mau deixar de ler uma ou mais palavras em um versículo ou passagem. Devido ao mau hábito da incorreção, nós somos frequentemente inexatos no conhecimento da Bíblia. Quão facilmente a palavra de Deus pode ser tomada erradamente se somos minimamente descuidados.

Vamos ilustrar nosso ponto aqui. A Bíblia é muito cuidadosa em seu uso do singular e do plural. O singular e o plural devem ser distinguidos. Por exemplo, a palavra “pecado” tem uma diferença em número no original Grego. O singular “pecado” aponta para a natureza humana, enquanto que o plural “pecados” aponta para os atos pecaminosos do homem. Onde quer que a Bíblia fale de Deus perdoando os pecados do homem, ela sempre se refere aos atos pecaminosos dos homens – plurais em número. Deus nunca perdoa o pecado do homem no singular – ou seja, a natureza humana pecaminosa. Pois o pecado no singular não é perdoado; não, nossa natureza pecaminosa precisa ser liberta, enquanto que nossos atos pecaminosos devem ser perdoados. Isso é claramente distinguido na Bíblia.

“Pecado” e “lei do pecado” também são diferentes. A menos que uma pessoa seja liberta da lei do pecado, ela não é liberta do pecado. Romanos 6 trata com a libertação do pecado, enquanto que Romanos 7 fala da lei do pecado. Se somos um pouco descuidados, poderemos pensar que essas duas coisas são bem similares. Quando vamos a Romanos 6, concluímos que o problema do pecado foi agora resolvido, pois Paulo no final de Romanos 6 já não o conectou ao começo de Romanos 12 trazendo a questão de apresentarmos o corpo e seus membros a Deus? No entanto Paulo sabe muito bem outra coisa: que ser liberto do pecado requer o conhecimento da “lei do pecado”; e para vencer “a lei do pecado” é necessário ter a “lei do Espírito” mencionada em Romanos 8. uma pessoa descuidada pode julgar que “pecado” e “lei do pecado” são bem parecidos: mas então ele perderá a palavra de Deus. Pois a palavra de Deus é bem refinada; cada palavra Sua tem sua ênfase. Se não somos cuidadosos, podemos considerar a palavra de Deus como casual, e assim falhar em entendê-la.

Além da “lei do pecado”, há uma outra lei em Romanos 7, “a lei da morte”. Se somos descuidados, podemos também tomar essas duas leis como idênticas. Porém, na verdade, elas são totalmente diferentes. O pecado é relacionado à impureza, enquanto que a morte é relacionada á invalidez. “O bem que quero fazer, eu não faço” é a “lei da morte”, e “o mal que não quero fazer, esse eu pratico” é a “lei do pecado”. Fazer o que eu não queria fazer é o pecado, mas não fazer o que eu queria fazer é a morte. Através da co-morte, somos libertos da lei do pecado; pela co-ressurreição, somos libertos da lei da morte. De acordo, Romanos 7 mostra-nos não apenas “a lei do pecado”, mas também “a lei da morte”. Se nós somos descuidados, essas verdades certamente serão ignoradas. Uma coisa é evidente: todos os que estudam bem a Bíblia são pessoas cuidadosas e acuradas.

Alguém pode nos ter dito que, uma vez que somos agora vestidos com as vestes de justiça de Jesus – ou seja que Deus nos deu a justiça do Senhor Jesus para ser nossa veste de justiça – não estamos mais nus, podendo aproximar-se de Deus. Não obstante, não há tal ensinamento na Bíblia. Nenhum lugar nas Escrituras ensina que Deus nos dá nos deu a justiça do Senhor Jesus para ser nossa justiça. Em vez disso, ela declara que Deus nos deu o Senhor Jesus para ser nossa justiça. Deus não nos deu um pedaço da justiça do Senhor para ser nossa justiça, pois Ele deu o próprio Senhor Jesus para ser nossa justiça. Quão vasta é essa diferença aqui! Os descuidados podem considerar a justiça do Senhor Jesus e o senhor Jesus como a justiça como sendo a mesma coisa, não percebendo que a justiça do Senhor Jesus pertence somente a Ele e não pode ser imputada a nós. Qualquer que vier a Deus deve ter justiça. O Senhor Jesus, Ele mesmo, precisa de justiça para vir diante de Deus; Sua própria justiça é Sua, para Seu uso próprio. E aquela justiça é a justiça que Ele vive na terra. Se fosse possível que aquela justiça fosse transferida para nós, nós teríamos de fato justiça; mas porque, então, devia o Senhor Jesus morrer por nós? Mas o fato é que Sua justiça não pode ser transferida. Ela é para sempre dEle, e ninguém pode compartilhar a Sua justiça.

Qual é, então, a nossa justiça? O próprio Senhor Jesus, e não a Sua própria justiça, se torna nossa justiça. Com a exceção de 2 Pedro 1.1 (“a justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”), que carrega um significado especial, todas as outras passagens do Novo Testamento inteiro falam do próprio Senhor Jesus sendo nossa justiça, nunca Sua justiça se tornando nossa justiça. A justiça do Senhor Jesus qualifica Ele para ser o Salvador: uma vez que Ele tem justiça, Ele não tem necessidade de expiação. Ele próprio é, porém, justificado por Deus e nos é dado como justiça. Somos vestidos com Ele. Estando vestidos de Cristo, estamos vestidos de justiça. Somos justificados perante Deus, não porque temos tantas boas obras, mas por que estamos vestidos de Cristo o qual é nossa justiça. Somos aceitos no Filho Amado, não na justiça do Filho Amado. A fim de estudar bem a Bíblia, precisamos ser exatos.
Algumas pessoas sugerem que é o sangue do Senhor Jesus que nos dá vida, significando que nossa nova vida é baseada em Seu sangue. Eles argumentam que bebendo o sangue do Senhor Jesus nós obtemos vida. Que Escritura eles usam? Eles citam a palavra em Levítico 17.14: “A vida de toda carne está em seu sangue.” Se lermos essas palavras superficialmente, podemos ver essa interpretação como razoável. No entanto, o sangue não dá nos dá nova vida. Pois o sangue é para expiação; o sangue é para satisfazer a exigência de Deus. Nós encontramos o princípio ordenado a esse respeito em Êxodo 12.13, que diz, “Quando eu vir o sangue, passarei sobre vocês.” O sangue é para Deus ver. É para satisfazer a Sua exigência, não a nossa. Há apenas um lugar na Bíblia que fala da eficácia do sangue junto a nós – de que é efetivo sobre a nossa consciência, que na realidade é para com Deus também.

Qual é, então, o significado da “vida” em Levítico 17? Essa palavra vida é “alma” na linguagem original e, portanto, aponta para a “vida da alma”. O Senhor Jesus derramou a Sua própria vida da alma. Diz Isaías, “Ele derramou a sua alma até a morte” (53.12). Ao derramar Seu sangue, o Senhor Jesus derramou Sua alma. E isso é para expiação. Na cruz, Ele clamou em alta voz, “Pai, nas tuas mãos eu entrego meu espírito” (Lucas 23.46); e tendo dito isso Ele morreu. Seu corpo estava pendurado na cruz; sua alma fora derramada no sangue para expiação (a característica do homem é a alma; a alma que peca deve morrer; assim, o assento da personalidade humana deve morrer); e Seu espírito foi entregue a Deus.

Em João 6 há várias referências como “Aquele que comer da minha carne e beber do meu sangue tem vida eterna”, e, “O pão que eu darei é a minha carne, pela vida do mundo”; mas nunca diz que quem beber do sangue tem vida. A fim de obter vida, é necessário que haja o comer da carne junto com o beber do sangue. Aprendamos a ser pessoas cuidadosas. Se misturamos o que Deus tem separado, podemos facilmente desentender Sua palavra. Não devemos ler a Bíblia casualmente. Buscando as Escrituras cuidadosamente, reunindo as centenas de passagens sobre o sangue, podemos ver que o sangue á para satisfazer a exigência de Deus, não a nossa.

Suponha que alguém diz: Nós não vamos mais pecar se o sangue purificou nosso coração e lavou a raiz do nosso pecado. Como deveríamos responder? Replicaremos: O sangue do Senhor nunca lavou nosso coração. Em nenhum lugar a Bíblia diz que o sangue do Senhor Jesus lava nosso coração. Em vez disso, a Palavra indica que Deus tem nos dado um novo coração. O coração é enganoso sobre todas as coisas; ele não pode ser lavado nem limpo. O sangue é para expiação do pecado, não para limpeza. É para perdão, não para santidade (santidade perante Deus e santidade no homem não são a mesma coisa).

Alguém pode levantar uma objeção dizendo, Hebreus 10 não menciona como o sangue do Senhor Jesus lava nosso coração? Não, a declaração lá diz, “Tendo nossos corações aspergidos de uma má consciência” (v. 22). A consciência é parte do coração; é a única parte onde somos conscientes do pecado. O sangue satisfaz a exigência da consciência do nosso coração e também a exigência de Deus.

Assim que percebemos como o Senhor Jesus expiou nosso pecado, nossa consciência naturalmente não terá mais consciência do pecado. Dessa forma, o efeito do pecado sobre a nossa consciência não é impedir-nos de pecar, mas libertar-nos da consciência do pecado. Não pecar é a obra do Santo Espírito. Não devemos confundir a obra do sangue com a obra do Espírito Santo.

Devemos desenvolver o hábito da precisão diante de Deus. Se não somos precisos, nós traremos dano à exatidão de Deus. Pessoas com o hábito da imprecisão não serão aptas para encontrar nada nas suas leituras da Bíblia. Devemos entender que a Bíblia é tão exata que não permite imprecisões. Aceitemos o treinamento para a precisão.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

C. Exercitado (Parte A - Não deve ser subjetivo)

“Alimento sólido é para homens maduros, os quais têm, pelo uso, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal” (Heb. 5.14). “Pelo uso” também pode ser traduzido “através do hábito” (Darby). Para receber a palavra de Deus, uma condição deve ser cumprida. Que condição é essa? Alimento sólido é para adultos. Porque isso é assim? Porque eles desenvolveram o hábito de consumir alimento sólido. Os adultos são capazes de ingerir alimento sólido através do hábito de ter suas faculdades exercitadas para discernir o bem e o mal. “Experiência na palavra da justiça” no verso anterior (v.13) significa ser habilidoso na palavra de Deus pelo uso habitual. A palavra “uso” ou “hábito” é um termo industrial Grego. Significa “habilidoso”. Dentre os trabalhadores, alguns são mãos novas e outros são mãos habilidosas. Os últimos são aqueles que se tornaram habilidosos através de um certo período de tempo. Ser habilidoso na palavra da justiça significa ser bem treinado na palavra de Deus. Para uma pessoa entender a palavra de Deus, ela precisa desenvolver esse hábito habilidoso.

A Bíblia expõe seus leitores. Certos tipos de pessoas lêem certas coisas das Escrituras. Se você deseja verificar o caráter e hábito de uma pessoa você apenas precisa pedir-lhe que leia um capítulo da Bíblia e ver o que ela tira dali.um homem de curiosidades vai ler coisas curiosas da Bíblia. Um homem com um grande cérebro vai encontrar a Bíblia cheia de razões. Um homem que não pensa apenas verá as letras em cada verso. É bem verdadeiro que o caráter de uma pessoa pode ser revelado pela forma como ela lê as Escrituras. Agora, se essas características pessoais não forem tratadas, elas podem desviar a pessoa e tornar sua leitura infrutífera.

Que tipo de caráter e hábito é requerido para um estudante da Bíblia?

(1) Não deve ser subjetivo. É requerido de todos os leitores da Bíblia que sejam objetivos. Nenhuma pessoa subjetiva pode estudar bem a Bíblia, pois ela não é apta para ler. Fale a uma pessoa objetiva uma vez e ela entende. Fale a uma pessoa subjetiva três vezes e ela ainda não entende. Muitas pessoas não ouvem e entendem porque são muito subjetivas, não porque seus cérebros são inferiores. Uma vez que elas vivem totalmente em seus próprios pensamentos, elas são incapazes de ouvir as palavras de outras pessoas. Estando já cheias das suas próprias opiniões e idéias, como podem elas receber as palavras dos outros? Se elas estão pensando em água e as pessoas lhe falam de colina, elas a reconhecerão como a água da colina. Podem essas pessoas que falham em ouvir as palavras das outras pessoas ouvir a palavra de Deus? Se elas não são aptas para entender as coisas terrenas, como podem elas esperar compreender as coisas espirituais?

Antes, uma coisa é surpreendente: todos os que sabem como ler a Bíblia são muito rápidos em ouvir. Você fala e elas imediatamente entendem. Elas compreendem plenamente o que você falou. Não sendo subjetivas, elas são capazes de ler a Bíblia assim como de ouvir os outros. Por outro lado, para outras pessoas você pode falar uma e duas vezes, e mesmo assim elas não tem impressão nenhuma. Isso é porque elas tem muitas coisas nelas mesmas, muitos pensamentos idéias e opiniões. Se desejamos testar a nós mesmos em subjetividade, precisamos apenas observar se somos capazes de entender as pessoas quando elas falam. Podemos compreender quando elas falam casualmente? Em vista do nossos limitados anos em que vivemos na terra, nosso tempo sofrerá uma grande perda se somos o tempo todo subjetivos. Os leitores objetivos são dez vezes melhores do que os subjetivos. Pois esses últimos podem ler a Bíblia dez vezes e ainda assim a deixarem se esvair sem deixar nenhuma impressão.

Lembre-se da história de Samuel. Quando o Senhor o chamou, ele foi ver Eli. Ele era um rapaz pensador. Ele reconheceu que, se alguém deveria chamá-lo de noite, deveria ser Eli. Então quando Deus o chamou, ele pensou que Eli o tinha chamado. Ele deve ter ouvido a voz de Eli inúmeras vezes, mas não podia distinguir essa voz da voz de Eli? Isso é devido à subjetividade dele. Sua mente já estava posta em Eli que o chamaria, e dessa forma não pôde distinguir a voz de Deus da voz de Eli.

O problema de algumas pessoas está em que elas não deixam Deus derrubar a sua subjetividade. Não importa o quanto elas leiam a Bíblia, elas não têm impressão nenhuma. Elas parecem nunca estarem aptas para ouvir o falar de Deus. Quando estamos lendo a Palavra, nosso pensamento, nossa idéia, nosso sentimento, nosso coração – nosso todo – precisa estar aberto para Deus. Em suma, nós não devemos ser subjetivos. Nós vamos cada vez mais ver a importância desse princípio. Se alguém não tem sido tratado nesse respeito, ele é incapaz de estudar bem a Bíblia. Mas uma pessoa objetiva está esperando para ouvir Deus falar; há nele uma quietude que deixa Deus falar. Aquele que chegou a essa posição pode facilmente entender o que Deus está falando quando ele lê a Bíblia. A pessoa subjetiva, porém, não pode nem, dizer o que ela leu, pois espiritualmente ela é dura de ouvido – assim como em Hebreus 5.11 diz: “Vos tornastes tardios em ouvir.” Ele é tão cheio das suas próprias coisas que não tem espaço para a Palavra. Subjetividade é, portanto, um problema muito sério. Uma pessoa subjetiva não tem caminho para a palavra de Deus, nem pode tocar as coisas espirituais.

C. A Obediência Deve Ser Persistente

De acordo com nossa obediência, Deus nos dará a revelação da verdade da Bíblia. A medida da nossa obediência diante de Deus determina a quantidade de luz que recebemos. Se obedecermos a Deus persistentemente, veremos continuamente. Sem consagração, não pode haver visão; sem obediência persistente, não haverá crescimento na visão. Caso nossa consagração seja menos absoluta, nossa iluminação será também menos completa; se nossa consagração é muito geral, nossa iluminação não pode ser mais específica. Então, o problema básico está na consagração. Aquele que não conhece a consagração não tem jeito de conhecer a Bíblia. Para ver continuamente, o consagrado deve ter não apenas aquela consagração básica, mas também uma obediência persistente. O grau de iluminação depende da obediência que a pessoa tem depois da consagração. Ver plenamente demanda perfeita obediência.

Vamos prestar atenção especial à palavra do Senhor Jesus: “Se alguém desejar fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo.” (João 7.17). Se qualquer homem deseja fazer a vontade de Deus, ele saberá. Em outras palavras, a obediência é a condição para o conhecer. Desejo para fazer a vontade de Deus é a condição para conhecer a vontade de Deus. É completamente impossível conhecer o ensinamento de Deus sem intencionar fazer a vontade de Deus. Conhecer a doutrina de Deus requer o desejo para fazer a Sua vontade. Desejar é uma questão de atitude. Deus gosta que tenhamos a atitude da obediência. Quando ela é presente em nós, o ensinamento de Deus se tornará claro para nós. Em vez de ficar sempre perguntando o que a Bíblia ensina, perguntemos-nos se estamos desejosos de ouvir a palavra do Senhor. O problema está na nossa atitude, não na doutrina das Escrituras. A manifestação ou não da Bíblia oscila grandemente sobre a nossa atitude, enquanto que Deus é responsável por Seu ensinamento. Se nossa atitude é correta, Deus imediatamente nos revelará Sua palavra. E, a cada outra obediência instantânea com outra atitude correta, teremos outra revelação de Deus. Com a atitude certa vem a revelação; com a obediência àquela revelação vem mais uma atitude correta e outra revelação.

Muitos professam que têm visto as verdades na Bíblia, embora somente aqueles que desejam fazer a vontade Deus podem vê-las. Esse “desejo de fazer a vontade de Deus” é o resultado da obra persistente do Senhor em nós. Não pense que não custa nada ver a luz. Cada visão é tanto preciosa como custosa. Às vezes, temos que ser levados por Deus a passar por severas experiências antes de poder ver uma única coisa. A vida de Deus frequentemente vem a nós através da reflexão; ou seja, ela brilhará em uma área e será refletida em uma outra área. Muito da luz de Deus é refletiva por natureza. Recebendo a luz nesta parte, podemos ver a luz em outra parte. Mais luz aqui nos garantirá mais visão lá. Se formos desobedientes em um dos testes, cedo perderemos a revelação. Ver a luz de Deus claramente posteriormente requer que a vejamos de várias direções. Quanto mais desejosos estivermos de pagar o preço em todas as ocasiões, maior será a luz que poderemos ver. Nossa obediência levará a outra obediência, que por sua vez trará mais obediência. Uma luz induzirá outra luz, e assim por diante. Todas as ordens de Deus têm propósito. Onde quer que percamos duas ou três obediências, nós invariavelmente sofreremos perda perante Ele.
Onde e quando quer que falharmos, a causa pode ser um defeito na consagração, não importando o quão consagrados e obedientes pensemos que somos. A falha em ver só pode ser atribuída aos nossos olhos defeituosos. Deus nunca pode ser falto em luz, mas Ele pode se recusar a falar se notar alguma falta de desejo em nós. Ele nunca coage as pessoas, nem irá Ele revelar Suas palavras de maneira barata. O Espírito Santo parece ser bastante tímido, pois Ele se retira no instante em que encontra hesitação da nossa parte. Deus não dará luz a alguém cuja consagração é defeituosa. Portanto, fracasso no entendimento da Bíblia não é um problema pequeno; ele revela um defeito na consagração. O ungüento espiritual para os olhos deve ser comprado por preço; não é dado gratuitamente. Todas as visões são custosas, nenhuma é concedida de forma barata.

sábado, 19 de janeiro de 2008

B. O Olho Deve Ser Simples

Há muitos lugares na Bíblia que falam distintivamente da luz. Em Mateus 6, o Senhor Jesus fala da luz do coração: “A lâmpada do corpo é o olho” (v.22). Note como o Senhor não se refere ao olho como sendo a luz do corpo, mas apenas como a lâmpada do corpo. Pois a luz pertence a Deus, ao passo que a lâmpada pertence a nós. A luz está na palavra de Deus, mas a lâmpada está em nós. A lâmpada é onde nós obtemos a luz. em outras palavras, a lâmpada é onde Deus põe a Sua luz e, assim, é o lugar onde tanto recebemos como liberamos a luz. A fim de ter o brilho da palavra de Deus sobre nós, é necessário que tenhamos a lâmpada no corpo. Agora, essa lâmpada é nosso olho, e “se, portanto, teu olho for simples, todo teu corpo será cheio de luz. Mas, se teu olho for mal, todo teu corpo será cheio de trevas” (vv.22,23). Para ter nosso corpo cheio de luz, uma condição nos é dita pelo Senhor, a saber, que nosso olho deve ser simples.

O que quer dizer simplicidade do olho? Embora tenhamos dois olhos, o foco é um; pois os dois olhos olham para a mesma direção simultaneamente. Suponha que uma pessoa tenha um problema no olho. Em vez de serem simples, os dois olhos produzem dois focos, consequentemente vendo duas coisas ao mesmo tempo, mas nem vendo claramente. Para que os olhos vejam qualquer coisa acuradamente não deve haver nada além de um foco, nunca dois. Para que se receba luz, a questão de o olho poder ou não ver é tão problemática quanto a presença ou não de luz. Não haverá luz se não recebermos graça e misericórdia; mas a luz já está em nós se recebemos graça e misericórdia. Então, a nossa dificuldade agora não diz respeito à luz, mas aos olhos. Se os olhos são maus, a luz não se manifestará. Infelizmente, os olhos de muitos não são simples; eles vêem duas coisas em vez de uma, ou vêem uma coisa em vez de duas. Como conseqüência, ou a luz é indistinta nas suas vidas, ou eles estão em total escuridão.

“Nenhum homem pode servir a dois senhores: ou ele vai odiar a um, e amar o outro; ou ele vai honrar a um, e desprezar o outro” (v.24). A razão por que muitos não podem ver a luz é os seus olhos sendo maus, que por sua vez é devido à sua falta de consagração diante de Deus. O que é consagração? Consagração significa: Eu servirei somente ao Senhor. Um homem não pode servir a dois senhores. Se ele respeita a um, ele desprezará o outro. Se ele odeia um, ele vai amar o outro. É absolutamente impossível servir bem a dois mestres. Não há maneira de equilibrar a balança. Ninguém pode servir ao Senhor de um lado e servir a mamom de outro. Mais cedo ou mais tarde aquele que serve a dois mestres se encontrará em um dilema. E ele finalmente vai amar a um e odiar o outro. Se uma pessoa não se consagra totalmente ao Senhor, ela vai estar servindo totalmente a mamom. O Senhor insiste que os olhos devem ser simples, significando que nosso serviço e nossa consagração devem ser simples. A simplicidade dos olhos de um homem se expressa na simplicidade de seu serviço.

Possa Deus capacitar-nos a ver este princípio básico: se desejamos estudar a Bíblia, entender seu ensino e adquirir a revelação que está nela, nós temos uma responsabilidade diante do Senhor, a saber, que devemos nos consagrar absolutamente e inteiramente ao Senhor. Então estaremos aptos para ver a luz nas Escrituras. Onde quer que nossa consagração comece a ficar duvidosa, nossa visão começa a ficar turva. Se nossa visão se torna anevoada, nossa consagração deve estar falha. Possamos nós inteiramente aprender que um homem não pode não pode servir a dois mestres.

O outro mestre é chamado mamom. Esse termo representa riqueza ou abundância. Como a luz da Bíblia é prejudicada por mamom! Devido ao véu que é colocado por mamom, muitos não podem ver a luz na Bíblia. Eles não vêem a verdade da Palavra porque têm esse problema de mamom neles. Eles não se negarão a perseguir a riqueza quando encontrarem a verdade em conflito com seu ganho pessoal. Se as pessoas pudessem deixar de lado seu ganho ou perda pessoais e perseguir a verdade a qualquer custo; eles poderiam conhecer a Bíblia bem naturalmente. Mas, devido ao problema de mamom permanecer não resolvido, muitos têm comprometido o ensinamento da Bíblia. Se os Cristãos tivessem resolvido o problema de mamom, o número dos que obedecem a Deus seria grandemente aumentado.

Por isso, então, precisamos levar este aviso ao coração, pois o momento em que nos tornarmos descuidados e nos importarmos um pouco pelo nosso próprio ganho egoísta, a luz de Deus será imediatamente coberta por um véu. A fim de ver a luz, nós devemos não servir a mamom. Não podemos ter dois interesses – nosso próprio e o de Deus. Só podemos considerar um interesse, o de Deus. Se intrometermos o nosso próprio interesse, teremos instantaneamente dois mestres, e nossos olhos não serão simples. A mente dupla não é capaz de conhecer a Bíblia; aquele que deseja preservar seu próprio interesse é automaticamente desqualificado. Apenas os de olho simples podem verdadeiramente estudar a Bíblia.

Como nosso olhos podem ser simples? “Onde está teu tesouro, ali também estará teu coração” (V.21). isso é um tanto singular: que se pudermos controlar mamom, seremos ajudados em ver de prejudicados por ele. Nosso coração naturalmente ama a mamom. É um tanto difícil para nós inclinar nosso coração para Deus e não para o ganho. Se pudermos controlar nossa riqueza, poderemos controlar também nosso coração. Nós devemos, então, aprendera mandar embora nosso tesouro. Pois o Senhor diz aqui que “onde está teu tesouro, ali também estará teu coração.” Quando alguém despacha seu tesouro para o lado do Senhor, seu coração vai simplesmente gravitar para o Senhor de forma natural. Enviando seu tesouro para o céu, o crente envia seu coração para o céu também. Onde nosso tesouro está, lá estará nosso coração. Então, rendendo tudo a Deus, nosso coração espontaneamente vai todo para Ele. E, assim, nossos olhos podem ser simples.

Para podermos entender a Bíblia, precisamos ter uma perfeita consagração. Como pode nosso coração ser inclinado para Deus se não há consagração? A consagração produz uma ação especial; a saber, envia seu coração todo para Deus. Quando consagramos nosso todo para Ele, nosso coração não pode fazer nada a não ser ir para Ele, porque nosso tesouro já foi despachado lá. Duas diferentes situações podem acontecer na consagração: o coração de uma pessoa pode ir primeiro, enquanto o coração de uma pessoa pode seguir depois. Alguns são movidos nos seus corações antes de se consagrarem, enquanto outros se consagram e então são movidos em seu coração. Não importa a condição do nosso coração, consagremos-nos. Enviemos as coisas com que estamos mais relutantes em romper. No nome do Senhor, deixe-a ser despachada aos necessitados. À medida que as mandamos embora, nosso coração irá para o lado do Senhor. Quando todas as coisas tiverem sido enviadas para Seu lado, nossos olhos espontaneamente se tornarão simples.

À medida que nossos olhos se tornam simples, eles começam a ver claramente e são então capacitados a ser iluminados. “Todo teu corpo”, diz o Senhor, “será cheio de luz” (v.22). O que significa ter o corpo cheio de luz? significa ter luz suficiente para ensinar nossos pés a andar, nossas mãos a trabalhar, nossa mente a pensar. Em outras palavras, temos luz em todos os lados. A luz fluirá em nossa emoção, nossa vontade, nossa mente, nosso amor, nosso caminhar, e nosso caminho. Nenhuma área a nosso respeito permanece encoberta se nossos olhos forem simples.

Nós temos declarado que apenas os espirituais podem estudar a Bíblia. Nós agora vamos adicionar que apenas os consagrados podem conhecer a Bíblia. Exceto se a pessoa é consagrada, ela nunca poderá estudar a Palavra bem. Quando ela as Escrituras, ela encontrará esta ou aquela área onde ainda não consagrou, e as trevas estarão sobre ela. À medida que lê, ela será confrontada com mais áreas não consagradas e mais escuridão. Com as escuridão sobre ela, ela é incapaz de obter qualquer coisa de Deus. E, assim, compete a ela ser absoluta perante Deus. Ela não pode servir a Deus por um lado e, por outro lado, esperar seguir seu próprio caminho. Alguém pode dizer: Eu realmente quero conhecer a vontade Deus, mas eu apenas não sei o que a Bíblia ensina sobre esse assunto. Isso é uma desculpa; isso não é verdade. Ele não sabe por que ele não deseja ir para o caminho de Deus. Se ele realmente deseja trilhar a vereda do Senhor, ele verá o caminho marcado claramente diante dele. Somente um tipo de pessoa não é clara – aqueles cujos olhos não são simples.

A. O Coração Deve Ser Aberto

A Bíblia é a palavra de Deus. É cheia da luz de Deus. Essa luz ilumina todos os corações que estão abertos para Ele. “Mas todos nós, com o rosto desvendado contemplando a face do Senhor” (2 Cor. 3.18). contemplar o Senhor com o rosto desvendado é uma condição básica para ser iluminado pela glória. Se alguém se aproximar do Senhor com um véu no rosto, como pode esperar que a glória do Senhor brilhe sobre ele? A luz de Deus brilha somente sobre aqueles que são abertos a Ele. A menos que alguém esteja aberto para Deus, ele não pode obter Sua luz. O problema está em estar fechado para Deus. Seu espírito, seu coração, sua vontade, e sua mente estão todos fechados para Deus, e assim ele não terá a luz da Bíblia brilhando sobre ele.

É como o sol que, sendo tão cheio de luz, existe para iluminar o mundo habitado; mas se nos assentarmos em casa com todas as portas e janelas fechadas, sua luz não pode entrar e brilhar sobre nós. A dificuldade não está com a luz, mas com a pessoa. A luz pode apenas iluminar aquele que estão apenas para ela. Agora, se isso é assim para a luz física, é igualmente verdade com a luz espiritual. Sempre que fechamo-nos, a luz é impedida de chegar até nós. Alguns crentes são pessoas fechadas para Deus, e por isso eles nunca verão a Sua luz. Em vez de simplesmente gastarmos algum tempo lendo, vamos também examinar a nós mesmos se somos realmente abertos a Deus. Se a nossa face está sob um véu, a glória do Senhor não é capaz de nos iluminar. Se nosso coração não é aberto a Deus, como pode Ele nos dar luz?

A luz tem sua lei precisa. Ela ilumina todos que estão abertos a ela. A medida da abertura determina a quantidade de iluminação. Mesmo que fechemos todas as portas e janelas de uma sala, a luz física ainda penetrará em alguma medida, caso haja algumas frestas. Consequentemente, não é difícil receber luz. Simplesmente siga essa lei da abertura, e você terá luz. Da mesma forma, se essa lei da abertura for violada então não pode absolutamente haver luz. Aquele que é fechado para Deus não pode ser uma pessoa que conhece a Bíblia, independentemente de quanta pesquisa ele faça ou quão longamente ele ore. É extremamente duro para qualquer um esperar iluminação com um coração fechado. A luz de Deus não é dada incondicionalmente ao homem. Para um homem obter luz de Deus, ele deve cumprir esta condição.

Embora todos os filhos de Deus tenham a mesma Bíblia, a iluminação que eles recebem dela varia grandemente. Alguns parecem não ter qualquer entendimento da Bíblia, alguns recebem um pouco de luz, enquanto ainda outros a encontram cheia de luz. a razão para tal variação está nos leitores. A luz de Deus permanece a mesma, mas as próprias pessoas não são as mesmas. Algumas são abertas a Deus, então elas são capazes de entender a Bíblia; mas outras são fechadas para Deus, e assim elas não podem entender. O fechamento de algumas pessoas é completo, portanto a sua escuridão é igualmente total; enquanto o fechamento de outros é parcial, e consequentemente a luz que eles recebem é parcial. Seja qual for o grau de incapacidade para ver – seja grande ou pequeno, pleno ou parcial – tudo isso é prova da escuridão dentro de nós. Nunca pense por um momento que estudar a Bíblia bem ou não é uma questão insignificante. Se uma pessoa não estuda a Bíblia bem, isso indica um fato – esse homem vive nas trevas! Quão sério é para uma pessoa não poder entender a palavra de Deus e ver a luz que está nela.

Uma questão pode ser feita, O que exatamente significa estar aberto para Deus? Essa abertura deve vir de uma consagração incondicional e sem reservas. Ser aberto para Deus não é uma atitude temporária; é uma característica permanente perante Ele. Não é ocasional, é contínua. Se a consagração de alguém a Deus é perfeita e absoluta, sua atitude para com Deus será naturalmente sem reservas e nada nele é fechado para Deus. Qualquer indicação de fechamento apenas aponta para a imperfeição da consagração de alguém. Toda a escuridão vem do fechamento, e todo fechamento vem da falta de consagração. Onde quer que falte consagração, há um lugar de reserva. Onde alguém é incapaz de render-se a Deus, ali ele deve se defender; e naquela área ele não tem caminho para a verdade da Bíblia. Pois, quando vem a esta área, ele vai ficar circulando e circulando ao redor dela. Em suma, a escuridão vem do fechamento, e o fechamento vem da falta de consagração.

A. “Interpretando Coisas Espirituais para Homens Espirituais”

Porque acontece, muitos podem perguntar, que embora eu seja uma pessoa regenerada e possua um espírito regenerado eu não posso ler a Bíblia bem? Porque esse livro é fechado para mim? Para responder a essa pergunta, devemos ler uma passagem das Escrituras.

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Cor. 2.1-4). O assunto desse capítulo de 1 Coríntios é a respeito da pregação de Paulo não ser em palavras persuasivas de sabedoria.

“Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século... Falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória ... Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais” (vv.5-13).

A nota de rodapé interpreta a última frase acima como “interpretando coisas espirituais para homens espirituais”. (Em vista do contexto desse capítulo, a nota de rodapé parece trazer a melhor tradução. Uma vez que no capítulo 3 a palavra “espiritual” refere-se a homens, a mesma palavra usada perto do fim do capítulo 2 não pode significar outra coisa. A lei da interpretação não permite outro significado.) Paulo está aqui comunicando coisas espirituais a homens espirituais (“conferindo” no Grego também pode ser traduzido “comunicando”). Depois de ler esta passagem, podemos ver prontamente a relação entre o espírito e a Bíblia. É claro, Paulo está falando aqui a respeito das palavras reveladas e faladas pelo Espírito Santo, e não das que vem da sabedoria do homem. Quais são as palavras de acordo com a sabedoria do homem? Coisas que os olhos vêem, os ouvido ouvem, e o coração contempla – essas são palavras dos homens. Mas de onde vem a revelação de Paulo? Sua revelação vem do Santo Espírito, pois somente Ele conhece as coisas de Deus. Como o homem vem a conhecer essa revelação do Espírito Santo? Paulo declara que precisamos ter o Espírito de Deus. Isso coincide exatamente com aquilo que já temos visto no Evangelho de João. Quem conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus? Sem o Espírito de Deus ninguém pode conhecer essas coisas. Portanto, Paulo conclui que ele fala estas coisas não em palavras persuasivas que a sabedoria humana ensina, mas que o Espírito Santo ensina, comunicando coisas espirituais a homens espirituais.

Porque Paulo limita a comunicação de coisas espirituais apenas a homens espirituais? Porque a comunicação é impossível pára algumas pessoas. “O homem natural não recebe as coisas de Deus”; ele não pode compreender as coisas espirituais. “Pois são tolices para eles”; ele pensaria que nós que cremos em Deus somos realmente “loucos”. “E ele não pode conhecê-las, pois são julgadas espiritualmente” (v. 14). O ápice dessa passagem é alcançado com as palavras, “elas são julgadas espiritualmente”. Coisas espirituais só podem ser julgadas ou discernidas pelo homem espiritual; o homem natural não pode nem julgar nem conhecê-las. Não é uma questão de pesquisa. Alguém pode realmente gastar tempo pesquisando, mas ainda ser ignorante pois lhe falta um fator básico interior. O homem natural é o homem da alma. Cientificamente, ele pode ser chamado o homem psicológico; significando que é um homem controlado pela sua alma. Falando em termos espirituais, ela é um homem não regenerado. Ele é, como Adão, uma alma vivente, vazio do Espírito de Deus, e consequentemente incapaz de conhecer as coisas de Deus.

Por via de regra, depois que uma pessoa se torna cristã, ela deveria conhecer as coisas espirituais. Mas, porque muitos irmãos e irmãs ainda não as conhecem? Isso é devido ao fato de que, apesar de possuírem um espírito regenerado, eles não são necessariamente homens espirituais. Em 1 Coríntios 2 e 3, Paulo enfatiza o “espiritual” em vez do “espírito”. A ênfase de João é o “espírito”, enquanto a de Paulo é o “espiritual”. O homem não apenas necessita desse espírito, mas também precisa ser possuído por esse espírito. É absolutamente necessário ter o espírito; não há outro caminho. Mas, quando tem o espírito, ele deve viver debaixo desse princípio, caminhar de acordo com o espírito, e ser um homem espiritual; senão, isso ainda não tem valor.

Vamos ilustrar isso com uma parábola. Suponha que você leva para um pomar um homem que é nascido cego. Você tenta lhe falar sobre uma mangueira que está ali, e sobre como se parecem os frutos dela. Você acha que o cego pode entender? Mesmo que ele seja muito esperto, com uma extrema habilidade sensitiva auditiva, ele ainda não será capaz de entender plenamente. Ele nunca conhecerá a cor verde de que você fala. O mundo da visão é diferente do mundo do som, assim como é diferente do mundo do pensamento. Mesmo assim, conhecer o mundo espiritual requer o exercício do espírito. Nem todos os que tem olhos realmente vêem, pois apenas aquele que usa seus olhos pode ver. O cego, é verdade, não pode ver a manga; mas nem uma pessoa com visão pode ver a menos que use seus olhos. Nem o cego nem o que tem visão podem ouvir a manga com os ouvidos.

Nosso problema é que, enquanto o cego não tem olhos para ver a manga, o que tem visão tenta, embora sem sucesso, ouvir a fruta com os ouvidos. Assim como o homem natural é incapaz de conhecer a Deus – pois ninguém pode conhecer a Deus por meio de seus órgãos naturais – assim também o homem regenerado não pode conhecer a Deus usando os mesmos meios naturais. Nem todos os que tem o espírito conhecem a Deus. É possível ter o Espírito de Deus em uma pessoa e ela ainda não conhecer a Deus. Se a esperteza nos pagãos não traz nenhuma ajuda no conhecimento de Deus, pode ser de qualquer ajuda em um cristão? Se o conhecimento mental não pode ensinar a Bíblia aos pagãos, poderia de qualquer forma instruir os cristãos? A única forma de conhecer a Palavra é usando o espírito. A questão é mais do que ter um espírito; é uma questão de usar o espírito. Ninguém pode concluir que porque tem um novo espírito lhe é permitido seguir seu velho caminho em vez de seguir o espírito. Se o velho caminho era inútil antes de ele possuir um novo espírito, é igualmente inadequado usá-lo depois de ter obtido o espírito. A avenida básica para o conhecimento da Bíblia está no espírito. Assim, em 1 Coríntios 2, Paulo indica que a questão não está em ter ou não o espírito, mas é ser ou não espiritual. Coisas espirituais só podem ser julgadas por homens espirituais.


“E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a bebês em Cristo” (3.1). Aqui está outro termo, “carnais”. Os crentes Coríntios são bebês em Cristo, devido ao fato de serem carnais. Por essa razão, Paulo adiciona: “Eu vos alimentei com leite, não com carne” (v.2a). Não é que eles não possam tocar as coisas espirituais, mas é que eles só podem tocar as revelações mais simples. Qualquer coisa mais profunda está além de seu alcance. Por serem carnais, eles só podem beber leite; eles não podem comer carne. O leite é consumido no estágio mais anterior da vida; por isso representa a revelação elementar. Mas a carne é usada mais tarde na vida; então isso aponta para as revelações mais elevadas e avançadas. Só uma pequena porcentagem do tempo da vida depende do leite; mas alguns, como esse crentes Coríntios, parecem incapazes de suportar qualquer outra coisa por algum pouco de tempo. “pois não fostes ainda capazes de suportá-lo: não, ainda agora não sois” (v.2b).

Em 1 Coríntios 2 e 3 nos são mostradas três classes de homens:

  1. O homem natural. Esse tipo de homem possui meramente aquilo que pertence à alma. Ele pode também ser chamado de homem psicológico. Um homem natural não é regenerado, não tem o espírito regenerado, e lhe falta a faculdade para conhecer a palavra de Deus. Essa classe de pessoas não pode entender a Bíblia de jeito nenhum.
  2. O homem carnal. Tal classe de fato possui a vida de Deus, tendo o espírito de Deus neles; mas, em vez de seguir o Espírito de Deus dentro deles, eles andam de acordo com a carne. Tendo o Espírito, mas não tocando o Espírito; tendo o Espírito, mas não se submetendo à Sua autoridade; tendo o Espírito, mas não sendo governados por Ele – essa é a classe se pessoas que recebe o termo de homens carnais na bíblia. Seu entendimento das Escrituras é muito limitado. Eles podem apenas ingerir leite, não carne. Leite é comida pré-digerida pela mãe, portanto essa referência de Paulo não pode estar apontando para revelação direta, aponta para revelação indireta. Tais pessoas são incapazes de receber revelação diretamente de Deus. Eles são compelidos a recebê-la indiretamente de outros.
  3. O homem espiritual. Esse tipo de pessoa não apenas tem o Espírito de Deus dentro, mas também vive sob o poder do Espírito e anda de acordo com os princípios do Espírito. A revelação que essa classe vai receber será ilimitada. A palavra de Deus declara claramente que apenas o espiritual julga todas as coisas.

Nessa questão do estudo da Bíblia, devemos lembrar esse pré-requisito básico – que o homem deve ser espiritual, ele deve seguir o Espírito.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

“As Palavras Que Eu Tenho Dito ... São Espírito”

O Senhor Jesus certa vez disse “As palavras que eu vos tenho dito são Espírito” (João 6:63). Logo, as palavras da Bíblia não são palavras apenas, nem são apenas letra, elas são também espírito. Não devemos esquecer o que o Senhor declarou: “Deus é espírito: e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito” (João 4:24b). Ele está nos falando ali sobre um princípio básico, que é: a menos que o homem exercite seu espírito, ele é incapaz de tocar Deus; uma vez que Deus é Espírito, nós não podemos louvá-lO a não ser no espírito. Se empenharmos nisso outra coisa que não seja o espírito, nós vamos todos falhar na adoração. Nós não podemos adorá-lO com nossa mente, nem com nossa emoção, nem com nossa vontade. “Devoção voluntária” (Col. 2.23) é totalmente sem valor.

Uma vez que Deus é espírito, Ele deve ser adorado em espírito. Esse mesmo princípio fundamental governa na declaração posterior do nosso Senhor, registrada em João 6: “As palavras que Eu vos tenho dito... são espírito.” Já que as palavras do Senhor são espírito, elas devem ser lidas no espírito. Em outras palavras, coisas espirituais podem ser tocadas apenas pelo espírito. Essa Bíblia que nós temos é mais do que palavras impressas em papel. No que diz respeito à sua natureza, ela é espírito. Assim, todos os que pretendem ler este livro devem usar seu espírito. Não há outra maneira de lê-lo.

É claro, o espírito a que nos referimos aqui aponta para o espírito da pessoa regenerada. É conveniente que o chamemos de “espírito regenerado”. Uma vez que nem todos têm esse espírito regenerado, também nem todos podem entender a Bíblia. Apenas aqueles que têm esse espírito regenerado estão aptos para estudar as Escrituras. O espírito deve ser usado na leitura da Bíblia assim como é usado na adoração ao Senhor. Sem esse espírito ninguém pode conhecer a Deus nem conhecer a Bíblia.

Talvez você venha de uma família cristã. Você talvez se lembre de como, antes de ter nascido de novo, você leu uma grande quantidade de Bíblia, mas sem poder entender muito ela. Você conhecia as histórias na Bíblia, você lembrava dos eventos registrados nela, mas você não entendia nada. Isso não é nem um pouco surpreendente, pois a palavra de Deus é espírito. A menos que uma pessoa use seu espírito ela não é apta para entender a palavra de Deus.

Quando é que o homem começa a entender a Bíblia? A partir do dia em que ele recebe o Senhor. Depois disso, as Escrituras se tornam um novo livro para ele. Ele o considera como um tesouro, e embora ele possa não compreendê-lo muito bem, ele ama lê-lo. Diariamente e anualmente ele o lerá; ele sentirá fome ou perda se não o fizer.

Qual é a razão de ele entender a palavra de Deus dessa forma? A resposta está no novo nascimento: “Aquele que nasce do Espírito é espírito.” As palavras da Bíblia são espírito, e a vida que o homem recebe na regeneração também é assim. É necessário um homem espiritual para ler as palavras do Espírito. E apenas então a Bíblia começará a brilhar e se tornar efetiva na sua vida. Se uma pessoa não é regenerada, então não importa o quão esperta e culta ela pode ser, para ela este livro é um mistério. Mas um homem regenerado cuja base cultural possa ser primitiva possui um entendimento maior da Bíblia do que um professor universitário não regenerado. E a explicação? Um deles tem um espírito regenerado, enquanto o outro não tem.

As Escrituras não podem ser dominadas através da esperteza, pesquisa, ou talento natural. A palavra de Deus é espírito, então só pode ser conhecida por aquele que possui um espírito regenerado. Uma vez que a raiz e a natureza da Bíblia são espirituais, como pode alguém que é falto de um espírito regenerado entendê-la? Para ele, é um livro fechado.

Minha carne é verdadeiramente comida, e meu sangue é verdadeiramente bebida”, declarou o Senhor Jesus (João 6.55). Quando aqueles judeus incrédulos ouviram essa declaração, eles contenderam entre si, dizendo, “Como pode esse homem dar-nos sua carne para comer?” Não obstante, todos os que são nascidos de novo sabem que isso indica que Ele é o Filho de Deus. Nós nos dobraremos e confessaremos, “Minha vida vem da Sua carne e Seu sangue. Sem Sua carne, Eu não teria vida hoje. Sem Seu sangue, Eu nem mesmo posso viver hoje. Tu és de fato minha comida.” Ao ler as palavras do Senhor, os regenerados darão graças e louvarão, em vez de expressar perplexidade.

É o espírito que dá vida; a carne para nada aproveita: as palavras que eu vos tenho dito são espírito” (João 6.63). Nessas palavras de Jesus, nós vemos dois domínios: um é o domínio do espírito, o outro é o domínio da carne. No domínio do espírito tudo é vivo e proveitoso; no domínio da carne, porém, nada é proveitoso. É imperativo que nós leiamos a Bíblia no espírito. Não interessa o quanto instruído, ou quão cheio de recursos de pesquisa, ou quão excelente em poder de análise um homem é; ele não é apto para verdadeiramente estudar a Bíblia se não tem esse espírito.

Deus é Espírito. Hoje nós temos o espírito regenerado, portanto nós O conhecemos. Quando incrédulos argumentam conosco, sua eloqüência pode nos superar, sua esperteza pode nos exceder, e suas razões podem parecer mais convincentes; mas sabemos que conhecemos a Deus porque somos nascidos de novo - nós possuímos o espírito regenerado através do qual nós podemos tocar a Deus. Não importa se podemos explicar ou não; a realidade é que tocamos a Deus. Aqueles que não conhecem a Deus esperam encontrá-lo através de análise, dedução, ou racionalização. Eles podem fazer tudo isso, mas ainda assim eles não podem crer em Deus. Pois Ele não pode ser encontrado por meio da análise ou dedução.

Podes tu pela pesquisa encontrar Deus?” desafia o livro de Jó (11.7 – Versão King James). Deus nunca é alcançado através da pesquisa. Ele é encontrado por um caminho somente – através do espírito regenerado. Exercitando esse espírito, uma pessoa conhece a Deus através de contato direto. Fora disso não há outro caminho. E o espírito regenerado é necessário para o estudo da Bíblia assim como é para tocar a Deus.

Suponha, por exemplo, que uma pessoa deseja conectar eletricidade à sua instalação. Ele tem na sua mão madeira, bambu e tecido, mas não um fio de cobre. Embora a companhia de energia tenha um abundante estoque de eletricidade, ele não tem como fazer suas lâmpadas brilharem. Nenhuma quantidade de madeira, bambu ou tecido pode trazer a eletricidade. Mas há outra pessoa que não tem nem tecido, nem bambu, nem madeira. Tudo o que ela tem é alguns fios de cobre. Mas ela pode acender suas lâmpadas porque os seus fios conduzirão a eletricidade. Da mesma forma, o homem necessita de um espírito regenerado para tocar a palavra de Deus, assim como para tocar o próprio Deus.

Há somente um elemento em nós que nos capacita a ler a Bíblia, e é o espírito regenerado que temos. Se aplicarmos qualquer outro elemento para ler a Palavra, não tocaremos as coisas de Deus. A Bíblia é algo que pode se tornar tanto em carne como em espírito para nós. No caso de uma pessoa que não possui um espírito regenerado, mas tem apenas a carne e as coisas da carne, a Bíblia se tornará em carne para ele; mas no caso de outra pessoa, que possui um espírito regenerado, esse espírito vai operar nele de forma que, tocando a palavra de Deus, ele toca o Espírito.

Isso não quer dizer que a Bíblia muda a sua natureza para ser não-espiritual, pois a palavra de Deus é espírito. Disse Jesus: “É o espírito que dá vida; a carne para nada aproveita: as palavras que eu vos tenho dito são espírito.” Suas palavras são espírito. E para Seus discípulos crentes as palavras do Senhor foram espírito, mas para os Judeus incrédulos elas se tornaram em carne. A maneira como muitas pessoas manejam a Bíblia é quase risível, pois elas não têm esse espírito regenerado. Os homens não deveriam ler a palavra de Deus com suas próprias mentes e inteligências. O que eles precisam é desse espírito regenerado.

A Preparação do Homem

Para estudar bem a Bíblia duas condições básicas devem ser cumpridas: primeiro, a pessoa deve ser correta e treinada; e segundo, o método deve ser correto. Pelas últimas centenas de anos, especialmente estes que se seguiram à Reforma, tem sido escritos muitos bons livros sobre como estudar a palavra de Deus. Esses têm sido volumes de grande qualidade, mas eles compartilham de um defeito comum básico ao enfatizarem o método de estudo da Bíblia enquanto ignoram a pessoa que estuda a Bíblia. Os autores dão a impressão de que qualquer um pode dominar as Escrituras se tão somente adotar certos métodos. No entanto, o fato é que muitos têm usado esses métodos, mas ainda não conhecem a Bíblia. Sem dúvida, aqueles que escrevem sobre estes métodos conhecem suas bíblias muito bem. Porque, então, as pessoas não obtêm o mesmo resultado ao seguir seus métodos? É porque elas esquecem de que tipo de pessoas elas são. O problema de estudar a Palavra não está simplesmente no método, mas mais agudamente no próprio homem. Alguns estudam bem, pois eles têm aprendido diante de Deus; consequentemente, usando o método correto eles estão aptos para conhecer a Bíblia. Mas meramente passar adiante o seu método sem simultaneamente comunicar a sua vida não ajudará os outros cuja vida não é correta.

Uma coisa, então, é de suprema importância: ao estudar a Bíblia, tanto o homem quanto o método devem ser corretos. De fato, somente o homem correto pode utilizar plenamente o método apropriado. O método de estudo é inquestionavelmente um tanto significativo; sem isso ninguém pode dominar seu estudo. Mas o próprio homem deve ser transformado antes de ser apto para estudar bem. Aqueles que crêem que apenas uns poucos podem entender a Bíblia estão tão enganados no seu pensamento quanto aqueles que consideram todos como qualificados a conhecê-la. Pois a verdade é que nem poucos nem todos, mas apenas uma classe de pessoas pode realmente estudar a Bíblia. A menos que façamos parte dessa classe de pessoas, nós não estaremos aptos para estudar as Escrituras muito bem. Portanto, devemos perceber que o homem é mais importante do que o método. Se o homem não é certo, método nenhum vai dar certo; mas se o homem é correto, todos esses bons métodos podem ser usados. Nós sinceramente consideramos o método necessário; no entanto, nós nunca o consideraremos em primeiro lugar; o próprio homem deve vir em primeiro lugar.

Consequentemente, ao abordarmos este assunto do buscar as Escrituras, nós devemos naturalmente dividi-lo em duas partes: primeira, a preparação do homem; segundo, os métodos de estudo da Bíblia. O que se segue agora é a primeira parte, com a segunda parte a ser considerada mais tarde.